Estamos começando a trigésima terceira edição
da coluna Otoko Repórter, um espaço informativo e opinativo no B de
Bara. Este mês trarei uma polêmica sobre
um dos aspectos mais controversos da pornografia e da sociedade, falaremos
sobre censura.
Desejos sem
limites...
Um dia você abre um inocente mangá bara e para aliviar-se do
estresse do cotidiano e garantir aquela punheta pré-sono. A história é simples:
um casal é sequestrado por um bando de marginais e para que a menina não seja
estuprada o garoto aceita ser violentado por todos os algozes das formas mais
pervertidas possíveis. Se você ler esta história do Mentaiko em um jornal ela
seria revoltante, mas em um mangá ela é até aceitável. Ou será que não deveria
ser...?
Sim, estou falando do Cream Pie
É inegável que estupros, sadomasoquismo, relacionamentos abusivos e tantas perversões são temas muito recorrentes em mangás
pornográficos. Algumas situações deveriam causar tanto desconforto que um
leitor mais sensível poderia perguntar como isso pode ser excitante.
Porém, por pior que sejam, estas histórias estão entre as
favoritas de um número considerável de pessoas. Mas se considerarmos que este
tipo de produto cultural faz um diálogo amigável entre as situações que está
expondo e os desejos mais íntimos do leitor que goza com o que é representado,
então seria correto afirmar que no fundo os leitores não se incomodam com estas
questões?
Nossas traduções marcadas como “hardcore” são as mais lidas
do B de Bara. Pois é... Nós sabemos o que vocês estão lendo!
Definitivamente, não. Quadrinhos, livros, séries, filmes e
diversas formas de entretenimento trabalham com a ideias distorcidas da
realidade, satisfazendo anseios que pessoas mentalmente saudáveis mantém apenas
sob forma de fantasias, sem externalizar. Isso quer dizer que muitos estão
propensos a aceitar estupros, relacionamentos abusivos, sexo violento entre
outras coisas, CONTANTO que não saiam da FICÇÃO!
Os limites dos
desejos
Seria muito fácil admitir que basta que determinados assuntos
permaneçam apenas nas mídias, porém, cada cultura ainda tem seus tabus. E estes
assuntos delicados acabam motivando as censuras. Algumas podem nos parecer
muito rigorosas e outras muito relapsas. Um exemplo disso são as censuras nos
paus tão comuns nos mangás bara que têm uma explicação e evolução históricas.
Antes da Restauração Meiji, 1868, o Japão
era bem liberal com relação a pornografia. Ela inclusive estava presente em
xilogravuras religiosas, em materiais literários e peças decorativas. As práticas
sexuais representadas eram as mais variadas possíveis, incluindo
homossexualidade, sadomasoquismo e zoofilia.
Porém, com a forte presença estrangeira no território
nipônico o governo sentiu a necessidade “moralizar” a cultura nacional dentro
de uma perspectiva britânica vitoriana. Assim,
foi instituído o Artigo 175 do código penal japonês, que previa multa e
detenção para quem comercializasse este tipo de conteúdo.
Este artigo permaneceu rigoroso até o fim da Segunda Guerra
Mundial, quando os Estados Unidos obrigaram o governo japonês a abolir qualquer
forma de censura. Assim, o Artigo 175 sofreu algumas alterações, restringindo a
proibição apenas à exibição dos órgãos sexuais e pelos pubianos.
Para burlar a lei os japoneses passaram a desenhar muita pornografia com tentáculos e crianças, que representavam brechas na lei.
Também sempre tiveram dúvidas se a censura se referia ao órgão sexual como um
todo, criando aqueles “paus luminescentes” que alguns abominam.
"Você nunca esquece seu primeiro tentáculo" - Mahou Shojo Izuka
Foi apenas em 2014 que o governo japonês aprovou uma lei proibindo
pornografia infantil, e só para se
adequar a padrões internacionais. Porem, materiais com lolicon e shotacon ainda
são verdadeiros tabus, pois neles não há de fato a violação de nenhum direito
da criança. Muitos fãs deste material inclusive o defendem dizendo que não veem
uma criança neste tipo de conteúdo e que inclusive não o teriam se fosse uma
criança de verdade por não se sentirem excitação por elas.
O afrouxamento ou estreitamento da censura japonesa é muito
evidente e pode ser acompanhado nos materiais das Comikets, onde em alguns anos
os mosaicos chegam a cobrir os genitais por completo e em outro é apenas uma
leve tarja preta.
Compare a forma como a censura foi aplicada nestas duas obras do mesmo autor
O caso do Japão é uma ilustração perfeita de como a censura é
variável de acordo com a cultura local e com o tempo. Assuntos considerados
tabus surgem e desaparecem, as vezes sem motivos muito claros para isso.
Questões
Empresariais
Vale lembrar que censura e alinhamento editorial são questões
bem diferentes. Enquanto a censura acontece por parte de governos ou sociedades
o alinhamento editorial se limita apenas à empresa de comunicação.
Um caso bem conhecido de vocês é nossa política de não
publicarmos shotacon no B de Bara. Seja por motivos legais, pelo público que
queremos atingir e do nosso próprio alinhamento ideológico não publicamos este tipo de conteúdo. Não tentamos impedir que este tipo de conteúdo seja publicado em outros sites no entanto.
Questões de
Governo
Apesar da censura ser usada como uma representação dos tabus
de uma sociedade ela também é usada como uma forma de controlar a população,
limitando a arte e as formas de expressão da mesma.
O Brasil passou por um período muito longo de ditadura e de
uma censura que até tinha alguns nomes como Ato Institucional Nº5 e Comando de
Caça aos Comunistas - CCC. Em nome de uma “moralidade” idealizada pessoas eram
mortas e torturadas, textos apagados, propagandas e reportagens proibidas,
atores espancados, como uma forma de “proteger” e mascarar um governo
encharcado de corrupção.
Por isso é sempre bom lembrar que a diferença entre o remédio
e o veneno é a dose.
Para saber mais
Shake Unicórnio
Nada melhor que comemorar o dia dos namorados dividindo um
deliciosamente gay Shake Unicórnio. Se você não tem namorado, pelo menos poderá
tomar tudo sozinho sem dividir com ninguém.
Onde encontrar: Burger King
Investimento: R$14,90
Bear Fantasy
O talentoso Marco ByM do Bear nerd, está lançando de graça a série
Bear Fantasy no Instagram que mostra lindos ursões aos tapas e beijos em meio a
magias espadas e uma nudez discreta.
Como se não bastasse ele lança também (e de graça) o conto Caio
Ainda Não Acredita no Amor.
Pois é, nunca pensei que mais uma vez falaria mal da Steam por aqui, mas
ela fez por onde, de novo e infelizmente.
Em resposta oficial a Valve apenas comunicou “Decidimos que a
decisão certa é permitir tudo na Loja do Steam, exceto por coisas que decidimos
que são ilegais ou simplesmente trollagens”, sem deixar exatamente claro o que
são coisas que eles “decidiram” serem ilegais ou o que seria a tal “trollagem”.
Para lembrar o quão grave isso pode ser gostaria de lembrar
do jogo “Kill the Faggot” e do recente Active Shotter.
Em comemoração à parada LGBTQ+ de São Paulo o canal pago HBO
exibiu uma maratona do documentário “Fora do Armário”. Os documentários são
emocionantes, mesmo para quem não é LGBTQ+ e podem ser encontrados no serviço
de streaming do canal.
Last of Us Parte2
Last of Us Parte2
A E3 está rolando, e mesmo a Sony não tendo apresentado
nenhuma surpresa ela nos emocionou com o lançamento do trailer de Last of Us
Parte 2, provando que seu apoio aos LGBTQ+ não se resume a uma logo promocional
e um wallpaper para o Playstation 4.
Promessa cumprida e muito mais
Quando soubemos que Sense8 não teria uma temporada final nós
protestamos. Nosso grito foi ouvido e a Netflix prometeu apenas um único
episódio final para série.
Depois de um ano de espera nos foi entregue mais 60 minutos
da série. Apesar de algumas tramas terem sido bem aceleradas, o final foi digno
e lindo.
Se você ainda não viu é uma ótima pedida para este dia dos
namorados. Principalmente pela cena final que é muito emocionante!!!
Ver esta mensagem escrita no finalzinho, antes dos créditos
fez o meu dia
Além disso a Netflix também está de super parabéns com o
anuncio de um filme com a pegada bem parecida com “Com amor, Simon” chamada Alex
Strangelove e a outra é uma série animada que apresenta uma versão drag de
meninas super poderosas.
Encerramos por aqui a trigésima terceira edição da coluna Otoko Repórter. Espero que tenham gostado, pois sei que acabei mexendo em um vespeiro quando concordei ou quando discordei da censura.
Normalmente, quanto às questões do B de Bara, o Grigolow faz
o papel do policial mal e eu do policial bom, mas desta vez não será assim. Eu
tenho percebido uma considerável queda nas visualizações da Otoko Repórter,
mesmo gastando um tempo precioso para trazer um conteúdo de qualidade para
vocês.
A culpa é de vocês, leitores, ou seria minha? Na verdade não
há uma culpa. É a forma como as pessoas interagem com a internet que tem mudado.
Para me adequar a estas mudanças vou precisar da ajuda de
todos vocês, por isso peço que respondam a enquete “O futuro da Otoko Repórter”
até o dia 1º de Julho. Sua colaboração é fundamental para a continuidade deste
espaço.
Não esqueçam de nos seguir nas redes sociais e lembrem-se, se
quiserem podem enviar sugestões de pautas, fandoms e notícias por e-mail também.
Marduk Hunk Otoko
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