O Veterano

Bem Pessoal, cá estou eu, com mais um conto para vocês.
Mesmo com o mês sendo atribulado e corrido, e bote corrido acho que perdi uns quilos.
Mas isso não impediu a minha imaginação fértil e problemática de escrever algo para vocês.
Então eu trago algo que me veio a tona e foi escrito com todo o carinho, pensando em vocês.
Trago então o Conto do Veterano

Era uma tarde quente e o que eu estava usando não ajudava muito na situação, mas fazer o que? Era tradição da universidade e além do mais, eu estava me “divertindo”.
No primeiro dia de aula da Universidade os veteranos entraram na sala e anunciaram o trote, nós íamos para o sinal pedir dinheiro para a calourada, até aí normal, mas eu puder  ver um sorriso maldoso no olhar de alguns veteranos. Eles nos aconselharam a virmos com roupas leves, pois íamos passar o dia no sol. Eu já esperava por isso, meu irmão passou pela mesma coisa quando entrou em C&T e agora eu também iria passar.

Vesti umas roupas velhas, uma camisa regata branca meio amarelada, que ficou apertada no peito e um pouco na barriga, parecia que eu tinha engordado um pouco, uma bermuda cargo, meus tênis velho de guerra e vamos pra aula. Quando cheguei lá estava um cheiro horrível de ovo podre e melaço, uma coisa agridoce, me preparei psicologicamente pois seria uma tarde longa. Tomei um banho de mel farinha, ovo, melaço e passamos a tarde no sinal, com os veteranos na sombra olhando para nós e rindo, conseguimos pouco, mas já era alguma coisa e repetimos  esse martírio.

Alguns dos veteranos pegaram pesado mesmo, mas teve um deles que me chamou a atenção, ele nos defendeu. Alguns calouros estavam vomitando e passando mal e eu estava no meio, o cheiro forte fez com que nós vomitássemos, e os veteranos queriam que continuássemos o trote, o grandão interveio e disse:

– Galera tá bom por hoje, nem todo mundo aguenta o rojão, afinal a catinga é muito forte, o sol tá matando e não me olhe com essa cara azeda Raphael que você desmaiou no nosso ano e eu lembro muito bem que fui eu que lhe carreguei pro hospital quando sua pressão caiu.

Wudson, pois esse era o nome dele, cruzou o braços e fechou a cara, aparentemente a opinião dele tinha um peso, e que peso, ele era um pouco mais alto que eu, devia ter seus 1,89, muito calado, braços fortes, uma barriga de cerveja,  um rosto meio redondo com barba, de longe parecia um ursinho mal humorado, tão fofo,  senti  um alivio enorme quando ele se intrometeu, se posicionando entre nós e os veteranos, suas costas largas, sua bunda redonda , as pernas grossas e peludas, foi nesse momento que eu percebi que estava mais que fodido, estava fodido e meio, tinha acabado de me apaixonar pelo veterano.

Ele me levantou pelo braço e perguntou:
– Você tá legal? Te vi meio tremulo e  sem folego, fiquei preocupado.

Pera, para tudo, ele estava prestando atenção em mim? Fui ao céu e voltei e consegui responder da maneira mais polida possível... Vomitando em cima dele, depois disso foi meio confuso, lembro que os veteranos nos deram banho de mangueira, minha imaginação fértil me fez ver Wudson me dando banho com a mangueira, passando a mão no meu cabelo, esfregando–o, lavou o meu rosto de maneira gentil com aquelas mãos enormes, meu ombros e fez o que pode com a minha camisa, depois ele me encostou na parede e tirou a camisa para se lavar do... bem... eeeerr...do banho que EU tinha lhe dado. Que visão! O peitoral e a barriga cheios de pelos lisos e castanhos.

Depois do banho ele espremeu a própria camisa, a sacudiu e a colocou no ombro, me estendeu a mão, eu a agarrei e ele me levantou com um puxão, me olhando com seus olhos castanhos, quase negros e perguntou:

– Você tá bem? Tem condições de voltar pra casa? Se for no meu caminho posso até te dar uma carona.
– Aonde você mora?
– Moro ali na vila Oeste, depois da Gameleira.
–  Que bom, eu moro ali perto... no Calafate.
– Ótimo eu passo por lá.

Fomos caminhando até o carro, ele olhava pra frente meio sério,  eu só fazia olhar para ele e para o chão, fomos calados até o carro, entramos e ele me perguntou que tipo de música eu curtia, falei que era eclético, desde que não fosse algo extravagante eu escutava sem nenhuma problema, ele ligou o som do carro e passou algumas pastas, até começar a tocar uma música baixa, envolvente e lenta. Era jazz, eu amo jazz! A conjunção da voz com os instrumentos, a batida e o sax me embalavam a alma.

Seguimos calados  durante todo o caminho escutando música, ele me deixou na porta de casa e se despediu, pela primeira vez em dias eu vi o seu sorriso, e me surpreendi, era um sorriso lindo, brincalhão e malicioso, que em nada combinava com sua carranca séria.

 Os dias se passaram e nós começamos a conversar um pouco mais, ele  me dava carona para casa, conversávamos sobre música, as aulas, professores, outros alunos, ele até me passou algumas provas antigas que o professor de calculo repetia. Não demorou muito para que eu percebesse que ele era um brincalhão e seu gosto musical era variado até demais. Não entendo até hoje como Wudson tinha na mesma pasta Avenged Sevenfold e Luiz Gonzaga, mas era coisa dele.

A cada dia que passava eu em encantava mais por ele, sabia de tudo, sério tudo, estava começando achar que minha paixonite ia me ferrar de vez, sabia tudo sobre ele, de manhã logo cedo ele ia para a academia, depois Wudson voltava para casa e  se arrumava para passar o dia na UF, de noite se não tinha aula ele bebia uma ou duas canecas de Chopp e voltava pra casa tarde. Foi numa dessas noites que tive a maior frustração da minha vida.

 Eu estava esperando ele na faculdade, afinal ele tinha dito que ia me buscar. Esperei quase uma hora depois do combinado, quando eu finalmente decidi pegar um ônibus e ele apareceu, meio “alegre”, com uma garota no carro.
– Desculpa man, tava com a galera no barzinho e hoje é sexta, a Carla trouxe umas amigas e bem...

Ele olhou pra garota que estava com ele e deu uma piscada de olho e um meio sorriso.

– Me desculpa cara de verdade... Eu esqueci completamente, você ainda quer a carona? Já chamou alguém pra vir te buscar?

 Morri com aquilo, um sentimento ruim me consumia por dentro, mas o que eu esperava? Ele nunca demonstrou nada, tá certo que ele me protegia e cuidava de mim, me dava umas dicas, mas esperar que ele gostasse de mim foi muito. Travei ali mesmo até ele buzinar e perguntar de novo se eu queria carona, eu balancei a cabeça dizendo que não, balbuciei alguma coisa e sai.

Depois daquilo, nossas caronas eram quase monólogos, ele falava e eu respondia monosilabicamente, “ sim... não... talvez... é assim mesmo”, até que numa dessas caronas ele parou um pouco antes da minha casa e estacionou o carro.

– O que foi man? Você tá estranho a algum tempo, calado, cabisbaixo. Tá acontecendo alguma coisa? Eu posso ajudar?
–Não é nada Wudson deixa pra lá, eu apenas ... Apenas... Inventei algo onde não existia e acabei me dando mal... Só isso..
Ele me olhou sério, engoliu em seco e perguntou:
–Foi alguma mina que te deixou assim? Por que você não é de se jogar fora man...

Ele me deu aquele sorriso sincero e me olhou de cima a baixo acenando positivamente com a cabeça.
– Não senhor... não é mesmo.

Ele piscou o olho e ligou o carro. Deixou–me na porta de casa, mas antes ele me puxou pra um abraço forte, o cheiro forte dele, a barba dele roçando no meu pescoço, seus braços fortes passando por debaixo dos meus e... me levantando?

– hahaha Abraço de Urso
– ai ai ai ... para tá doendo

Eu comecei a rir apesar da dor de leve, ele tinha me levantado e me sacudido um pouco enquanto me apertava, isso me surpreendeu e como  ele nunca tinha feito isso me surpreendeu mais ainda, eu ri como a muito não ria, no final ele ainda me fazia feliz, da maneira que ele podia. Ele me soltou no chão de repente, mas me segurou para que eu não caísse.

– Seu tapado... minhas costelas estão doendo agora, por sua causa.
Lhe desferi um soco no peito e ele nem se mexeu muito.

– Você fica muito melhor putinho e dando chilique do que aquela coisa mórbida que só fazia dizer “sim mestre... não mestre... BIP BIP BIP”, daqui a pouco eu ia instalar umas luzes na sua testa e iria ser o robozinho perfeito, meu robozinho, hehehehe.

 Ele disse isso, se despediu, entrou no carro e foi para casa, mas eu posso jurar que seus olhos tinham um brilho quando ele falou “meu”.

Bom Senhores, Hoje começou o Conto O Veterano, que será dividido em 3 partes, mas dependendo do desenrolar da historia, quem sabe vira uma série?

Deixo com Vocês a semente de um possível amor, continuem acompanhando as Aventuras desse casal (será?).

Boa Noite
Atenciosamente
Seu Lorde