O Veterano - Part. 3

Boa Noite meus confidentes ... Sim todos vocês são meus confidentes, pois compartilho com vocês minhas fantasias, meus medos, sonhos, alegrias e tristezas... Enfim vocês meus leitores são donos indiretos dos meus Sentimentos e apesar de ser um Lorde, fico feliz em servir a vocês.

Sem Mais Delongas eu lhes apresento a terceira parte do "O Veterano". Boa Leitura.

Se você não viu a parte 1 e  a parte 2 , clica aqui e acompanha essa História

O carro dele desapareceu na rua e eu fui pra minha cama, meu quarto simples parecia extremamente pequeno para mim, passei os olhos pelo guarda roupa, a mesinha e a cadeira, até que cheguei a TV e me vi refletido nela, reconheci ali uma pessoa feliz que finalmente tinha encontrado uma nova razão para viver, o Wudson me amava de verdade, os meses de sofrimento e tortura e de “e se...” ficaram para trás. A noite foi toda em claro, planejando tudo, desde as pequenas coisas como os beijos que seriam roubados nos intervalos das aulas, os olhares que trocaríamos escondidos ao passarmos um pelo outro no campus, as mãos que seriam entrelaçadas quando ninguém estivesse olhando e lógico... minha maior dúvida: como eu faria com aquele urso na cama?

O amanhã chegou e eu não tinha pregado o olho, por estranho que parecesse eu não me sentia cansado e sim revigorado, iria ver meu urso marrento em breve, daqui a pouco eu iria ligar para acorda-lo e ele viria me pegar para irmos à academia, eu liguei no horário de costume e o celular estava desligado, isso me preocupou, eu liguei durante meses e nunca esteve desligado, meu primeiro pensamento foi de que algo de ruim tinha acontecido, era estranho isso acontecer logo após o que aconteceu ontem, será que ele tinha mudado de ideia? Será que ele se arrependeu? Ou ele simplesmente não estava pronto para isso? O nervosismo começou a tomar conta de mim e o quarto começou a me parecer sufocante, saio dele e começo a andar pela sala, andando de um lado para o outro, a angústia me corroendo a mente. Continuo a ligar e o celular continua desligado, a dor em meu peito só aumentava, as paredes pareciam me trancar dentro de uma caixa, os móveis pareciam maiores, sinto que o ar começava a faltar e... e... e... CHEGA... Decidi sair de casa e caminhar pra espairecer, quando saí, o sol já tinha se erguido um pouco e a rua estava movimentada, pessoas correndo para pegar ônibus, pequenas lojas abrindo, as luzes dos postes ainda acesas, carros passando e cuspindo fumaça, de repente o mundo parecia sombrio e sem graça, tudo isso por causa de um telefonema não atendido.

Voltei para casa e meus pais já haviam saído, o sol permeava pelas janelas e cortinas, trazendo uma sensação morna e calorosa, mas incapaz de afastar o frio da casa silenciosa, na pia a torneira não pingava, o vento não passava pelas janelas fazendo balançar as cortinas e as pequenas plantas que haviam dentro de casa, as sombras azuladas tomavam conta de tudo e me engoliam enquanto eu adentrava a casa gelada. Cheguei até meu quarto e caí na cama, me sentindo traído e abandonado, as lágrimas marejavam meus olhos, trazendo o calor ao meu rosto, “por quê?”. A pergunta não me abandona, ela ronda meus pensamentos e me ameaça, “por quê?”. Cada vez que eu me pergunto meu corpo encolhe, buscando refúgio dentro de mim. “por quê?”. A pergunta que me afligia era como uma faca gélida a apunhalando-me a alma toda vez que era repetida; sem me dar tempo para respirar, a pergunta vinha de novo e me roubava o calor do corpo e o ar.

Assim foi toda a minha manhã, num silêncio desesperador e pesado, o frio percorria a casa com longos e finos dedos serpenteantes, envolvendo tudo que estava em seu caminho, incapaz de levantar da cama, permaneci onde estava e inundei meu travesseiro de lágrimas,  as horas se arrastavam e o dia parecia lento. Eu não sei quando dormi, só sei que acordei com minha mãe a me chamar pela porta.

- (toc toc toc)

- Fernando, meu filho, está tudo bem? Você passou o dia deitado e não foi pra aula, hoje a mesma coisa, estou preocupada, tá doente?

- Não mãe, estou bem, só não estou me sentindo disposto... só isso...

- Seu amigo veio lhe visitar, o Wudson, você vai recebe-lo?

Pulei da cama e abri a porta rapidamente – se eu pudesse me mover com essa velocidade nas brigas do colégio, teria escapado de algumas brigas –, corri para a sala e lá estava ele, com um moletom azul bebê, uma camisa cinza apertada no peitoral imenso, uma bermuda cargo verde escura e uma Havainas, meu ursão marrento não tinha me abandonado, fui até ele quase chorando e o abracei, percebi sua vergonha diante da demonstração de carinho, mas que se foda tudo ele estava ali e me abraçou bem apertado olhou nos meus olhos e disse:

- Fernando, precisamos conversar... sobre... - ele coça a cabeça num sinal claro de nervosismo - o trabalho da faculdade que você perdeu ontem, o assunto foi dado anteontem... lembra?

- Sim? - fiquei meio confuso, mas entendi que ele queria conversar sobre nós e como ELE não era assumido, estava se sentindo desconfortável - você me espera? Eu tomo um banho rápido e vou trocar de roupa.

- Claro... Claro...

Fui pro banheiro com o sentimento de dúvida no peito e enquanto a água caia, minha mente se agitava, não lembro como, mas eu saí do banheiro, vesti uma roupa, me despedi da minha mãe e entrei no carro com o Wudson... só me lembro de entrar lá, como se tivesse acordado misteriosamente no banco do carro. Ele permaneceu em silêncio, ligou o carro e saiu, dirigiu em silêncio, as mãos crispadas no volante, chegamos até uma praça, discreta, alguns postes com luminárias amareladas, várias arvóres e brinquedos com algumas crianças, pessoas passeavam e outras corriam fazendo exercícios. Ele parou o carro e desligou, ficou olhando, eu olhava para ele... A tensão dentro do carro era tanta que precisaríamos usar uma britadeira para quebra-la; foi quando eu percebi, suas mãos estavam brancas de tanto apertar o volante, sua testa estava molhada de suor, pus a mão no seu braço e senti leves tremores. Ele estava assombrado, mas com o quê?

- Wudson? O que foi? Por que você tá assim? Aconteceu algo ontem, você não atendeu minhas ligações e tudo o mais...

Ele levantou a mão me interrompendo e, ainda encarando, falou:

- Fernando... eu estava feliz, muito feliz, porque aquilo que eu sentia é reciproco, eu não estava sozinho, mas... como vai ser minha vida Fernando? Assim... Eu tenho tudo planejado e tudo mais, estava nos meus planos encontrar a pessoa certa, mas não estava neles que essa pessoa fosse...

- Um homem.

Ele baixou a cabeça e confirmou.

- Eu não sei como lidar com isso Fe, é muita coisa para mim... E.. eu... Eu... não sei o que fazer... - com os olhos brilhando ele me encara - Como minha família vai olhar para mim? Meus pais... Meus irmãos, os tios, meus amigos, todos eles... Como? Como?

O Wudson apoiou a cabeça no volante e começou a soluçar e pude ver as lágrimas rolando pela sua face, assim como eu podia sentir as minhas começando a brotar, eu sabia que aquele processo não era fácil, nem toda família aceita e a família do Wudson era altamente tradicionalista, eu podia imagina a responsabilidade dele, o primogênito, aquele que deveria ser o exemplo para todos os demais, naquela situação.

- Wudson, se você achar melhor... eu posso me afastar... e fingimos que isso nunca aconteceu...

- NÃO!!  - ele agarrou minha mão com tanta força que chegou a doer, senti meus ossos sendo prensados pelo desespero dele - ... Se você.... você... sugerir isso de novo... eu lhe bato... bato tanto... que vou ter que ficar com você no hospital... e... e... e... foda-se, você não vai fazer isso.

- Mas é o melhor...

- Não, não é o melhor para mim, você sim é o melhor para mim. Fernando, você cuida de mim e me ama, de uma forma que nunca vou encontrar ninguém que faça isso por mim...

Eu fiquei sem reação na hora, mesmo o amando, eu não tinha ideia de que ele estava disposto dessa forma... por mim... abandonar tudo o que ele era e ainda é por minha causa. Olhei para ele e vi ali a imagem de um homem forte e pronto para a vida, mas ele estava quebrado, desesperado, por que não importasse o quanto ele se preparou... Aquilo que estava diante dele era algo ao qual ele não tinha nem sequer imaginado e mesmo assim ele não queria desistir daquilo, ele não queria desistir de mim, mas para isso ele não podia ficar sozinho, eu decidi ali, dentro daquele carro que seria aquele homem com quem eu iria compartilhar a minha vida.

Tomei seu rosto entre minhas mãos, com meus polegares enxuguei suas lágrimas, lhe dei meu sorriso mais sincero e lhe confessei do fundo do meu coração:

- Te amo, Wudson...

E não foi preciso dizer mais nada, por que aquilo dizia tudo, nos abraçamos dentro do carro e choramos juntos, compartilhando nossos medos e esperanças com trocas de olhares e carinhos, tendo somente um ao outro.

A noite avançava e as pessoas já começavam a ir para suas casas, a praça começava a esvaziar, mas isso não importava, estávamos sozinhos juntos e isso me bastava para ser feliz. 

         

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Com Carinho e Amor

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